Às vezes nos focamos tanto em preparar atividades estruturadas que prometem ensinar isso ou aquilo para as crianças que esquecemos que bebês e crianças estão sempre aprendendo. Uma caminhada pela rua pode virar uma aventura de exploração para um bebê: as diferentes texturas no chão, cheiros e sons diferentes daqueles de dentro de cada, pessoas passando... com esse princípio em mente, é intuitivo pensar que ambientes mais ricos em estímulos adequados promoverão mais oportunidades de aprendizado. Mas, calma, não significa que devemos controlar o ambiente: por sorte, a natureza já o preparou para nós.
Estar na natureza é estar cercado de estímulos na medida certa: temos barulhos vindo da água, de folhas balançando ou de animais; temos diferentes texturas como pedras, areia, terra, folhas, flores, entre outros; temos os limites naturais que exigem que as crianças prestem mais atenção aos próprios movimentos. Tudo isso faz com que a criança desperte um lado cada vez mais consciente de seus arredores, do ambiente que a cerceia, dos diferentes níveis de perigo que existem. É claro que pular de uma árvore será mais perigoso que pular no chão, mas a criança não sabe disso porque muitas vezes ela não possui o aparato fisiológico para compreender abstração nesse nível. Ao contrário de luzes piscando e barulhos incessantes (que são muito divertidos também e não precisam ser banidos, só não podem ser o padrão do que fazemos todos os dias), os estímulos naturais parecem nos convidar ao envolvimento, aquele vamos-virar-algo-novo-juntos. A criança não mais observa objeto brilhante: ela transforma o graveto em pá para caçar um tesouro pirata, um pouco de lama em bolo e a folha vira uma vela. A sinergia entre a criança e a natureza parece ser um ponto de acesso à velha questão: o quê em nós, seres humanos, é inato e o quê não é?
Ao olhar com atenção o livre brincar natural, conseguimos captar faíscas do que talvez sejam as expectativas naturais do desenvolvimento humano. Um bebê que pisa em areia, grama, pedras, folhas e galhos vai ser capaz de entender rapidamente em quais terrenos é preciso cuidado ao andar e em quais pode correr à vontade. Entretanto, se o bebê nunca teve chance de experenciar diferentes terrenos, como poderá saber disso? Essa é só uma das coisas que podemos aprender com a natureza. Ela também nos ensina sobre limites, justiça, mudanças, passagem do tempo, força, transformação, beleza e muito mais... basta parar, observar, refletir e aprender.
Leiturinha Complementar
A trilogia "A Sabedoria Secreta da Natureza" de Peter Wohlleben explora a profunda interconexão entre os seres vivos e o ambiente natural. Cada livro da trilogia mergulha em aspectos diferentes dessa relação, oferecendo ao leitor uma compreensão mais profunda e, muitas vezes, surpreendente do mundo natural.
1. **A Vida Secreta das Árvores**
Wohlleben revela como as árvores são seres sociais que se comunicam entre si, compartilham nutrientes, e até alertam umas às outras sobre perigos. Ele argumenta que as florestas são comunidades complexas onde as árvores não apenas competem, mas também cooperam.
2. **A Rede Secreta da Natureza**
Neste livro, o autor amplia sua investigação para o ecossistema como um todo, mostrando como plantas, animais e outros organismos estão interligados em uma rede complexa. Wohlleben destaca como pequenas alterações em um ecossistema podem ter efeitos significativos em outras partes da rede.
3. **A Vida Secreta dos Animais**
Wohlleben explora o mundo emocional e comportamental dos animais, sugerindo que muitos animais experimentam emoções semelhantes às humanas, como alegria, tristeza e empatia. Ele desafia a visão antropocêntrica, sugerindo que os animais têm uma vida interior rica e complexa.
Além do livro Wohlleben, Peter. A Sabedoria Secreta da Natureza: Como a Natureza Mantém Este Mundo Incrivelmente Maravilhoso em Equilíbrio – e Como Podemos Aprendê-lo, confira as seguintes referências bibliográficas:
"A Inteligência das Plantas" de Stefano Mancuso e Alessandra Viola - Um livro que explora a surpreendente capacidade das plantas de resolver problemas, se comunicar e até mesmo demonstrar formas de inteligência.
"A Teia da Vida" de Fritjof Capra - Uma obra que discute a interdependência entre todos os seres vivos, fundamentada na ciência ecológica e nos princípios da sustentabilidade.
"O Chamado da Floresta" de Peter Wohlleben - Uma continuação das explorações de Wohlleben sobre o mundo natural, com foco nas florestas e sua importância para o planeta.
Essas leituras complementares ampliam os conceitos apresentados por Peter Wohlleben, oferecendo novas perspectivas sobre a complexidade e a interconectividade da natureza.
Comentários
Postar um comentário