Pular para o conteúdo principal

Pensar com Afeto: parentalidade reflexiva

Pensar com Afeto: como a reflexão pode transformar o maternar


“Não tenho tempo nem pra pensar.”
Essa frase já saiu da sua boca? Da minha, várias vezes — e geralmente entre uma troca de fralda e uma panela quase queimando. Maternar é ação constante. Mas o que acontece quando o pensar vira luxo? O cotidiano vira peso, o piloto automático domina, e as escolhas deixam de ser escolhas.

Aqui no Filosofia Materna, a gente acredita que pensar é, também, uma forma de cuidar. E que refletir sobre o que fazemos com nossos filhos pode transformar o modo como vivemos com eles.

Pensar: um gesto de cuidado

Segundo a ética do cuidado, proposta por Carol Gilligan e expandida por Nel Noddings, cuidar vai além de alimentar, vestir, proteger. Cuidar envolve escuta, presença e reflexão. Quando paramos para perguntar: “Por que estou dizendo não agora?” ou “Isso faz sentido para minha filha, ou só para mim?”, estamos praticando o cuidado como relação — não como imposição.

E isso não é “intelectualizar demais” a maternidade. Isso é dar sentido ao vínculo. É afinar o tom com quem mais importa: a criança real que está diante de nós.

Reflexão é prevenção (e afeto)

Estudos sobre parentalidade reflexiva mostram que pais que conseguem pensar sobre seus próprios estados mentais e os das crianças respondem de forma mais sensível e adaptativa. Eles erram também (óbvio!), mas conseguem reparar. Conseguem pausar. Conseguem perguntar: “O que está acontecendo aqui?”, antes de reagir.

A filosofia entra nesse espaço de pausa. Ela não vem com respostas prontas, mas com perguntas melhores. Ela nos ajuda a viver com mais presença, menos culpa, mais intenção.

Crianças pensam. A gente também pode.

Se você já ouviu um “mas por que não?” cinco vezes seguidas, você já conheceu uma filósofa em formação. As crianças fazem perguntas que rasgam o silêncio do senso comum. Quando a gente responde com escuta e curiosidade, a gente mostra que pensar é bem-vindo. E isso molda o mundo interno delas mais do que qualquer brinquedo educativo.

Não é sobre perfeição, é sobre intenção

Pensar com afeto é diferente de se cobrar para acertar tudo. É saber que o erro existe, mas que ele pode ser pensado. É viver o maternar como um espaço de ética, de presença e de transformação mútua.

Não é fácil. Mas vale a pena.



Para pensar com a gente: Quais foram as últimas três decisões que você tomou como mãe, pai ou cuidador? Você teve espaço para pensar nelas com calma? O que você diria a si mesma, com carinho e presença?


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crianças feministas mudam o mundo

Feminismo é uma palavra que parece assustar muita gente, então falar de uma criação feminista se torna ao mesmo tempo difícil e necessário. Não é só combater a ideia de que rosa é de menina e azul é de menino: uma criação feminista visa tirar da criança os papéis de gênero e deixar a própria individualidade aflorar. O problema é que para isso acontecer precisamos mudar muita coisa na nossa sociedade e na nossa forma de pensar o mundo.  Comecemos por entender que existe uma diferença na forma em que homens cis e mulheres cis são tratados (aqui não fareium debate aprofundado sobre questões de gênero, mas é preciso ter consciência de que existem). Ao ignorar as diferenças entre os gêneros dentro da nossa sociedade corremos o risco de continuar criando meninas para se comportarem de forma dócil, útil, gentil, submissa,  enquanto os meninos são incentivados a serem mais enfáticos, agressivos, dominadores. Para uma criação feminista, precisamos voltar à ideia de observação dos inte...

Pensamento Crítico e Maternagem

Não precisamos de fórmulas mágicas para educar nossas crianças: precisamos de pensamento crítico para filtrar a quantidade enorme de informações contraditórias que chegam às mães.  No mundo corrido dos vídeos de poucos segundos,  refeições prontas e agendas lotadas, não sobra tempo para reflexão e contemplação do que significa Maternar.  Ao questionarmos o que nos informam de maneira lógica, frequentemente caímos em contradições ou nos vemos obrigadas a lidar com consequências evitáveis. Suponha, por exemplo, que seu bebê de 1 mês está chorando e que você tem um familiar que diz que a solução para esse choro é ofertar uma mamadeira com leite de vaca misturado com mistura para engrossar. Quando um bebê desse tamanho toma uma mamadeira dessas, ele se sente extremamente cheio e cansado (igual aos adultos depois de comerem muita feijoada, por exemplo). A única coisa que esse bebê aguenta fazer agora é a digestão, ele fica prostrado e, muitas vezes, adormece. Muitos cuidadores...

A Natureza Ensina

Às vezes nos focamos tanto em preparar atividades estruturadas que prometem ensinar isso ou aquilo para as crianças que esquecemos que bebês e crianças estão sempre aprendendo.  Uma caminhada pela rua pode virar uma aventura de exploração para um bebê: as diferentes texturas no chão,  cheiros e sons diferentes daqueles de dentro de cada, pessoas passando... com esse princípio em mente, é intuitivo pensar que ambientes mais ricos em estímulos adequados promoverão mais oportunidades de aprendizado. Mas, calma, não significa que devemos controlar o ambiente: por sorte, a natureza já o preparou para nós.  Estar na natureza é estar cercado de estímulos na medida certa: temos barulhos vindo da água, de folhas balançando ou de animais; temos diferentes texturas como pedras, areia, terra, folhas, flores, entre outros; temos os limites naturais que exigem que as crianças prestem mais atenção aos próprios movimentos. Tudo isso faz com que a criança desperte um lado cada vez mais c...