“Toda ética começa no cuidado.”
— alguém que provavelmente já passou a madrugada acordado com um bebê no colo
Cuidar não é só colocar comida no prato. É também perceber quando o olhar da criança está distante. É sentir a febre antes do termômetro. É saber a diferença entre um choro de sono e um de desamparo. E ainda lembrar de descongelar o feijão.
Filosoficamente falando? Isso é uma revolução.
Platão sonhava com o mundo das ideias, Kant achava que a razão pura era a base da moral. Mas pergunta se algum deles tentou colocar uma criança pra dormir sem cantar a mesma música trinta vezes. Spoiler: não tentaram.
Por isso, quando Lévinas fala que o rosto do outro me convoca à responsabilidade, eu escuto isso com leite derramado no chão e um bebê pendurado na barra da minha blusa. Ele não está falando de teoria. Ele está descrevendo a rotina.
A filosofia mora no colo
Não é exagero: pensar o cuidado é pensar o que nos faz humanos. E não no sentido "ah, somos todos frágeis", mas no sentido prático mesmo. Quem cuida está mantendo o mundo funcionando enquanto muita gente pensa que está "resolvendo coisas mais sérias".
Joan Tronto chamou o cuidado de “atividade que inclui tudo o que fazemos para manter, continuar e reparar o nosso mundo”. Se isso não é político, nada é.
Não basta amar: tem que estruturar
Cuidar cansa. E cansa mais quando ninguém vê. Cansa mais quando dizem “mas ela ama o que faz”. Como se amar justificasse a ausência de descanso, salário, tempo livre ou consideração.
Simone Weil dizia que atenção é a forma mais pura de generosidade. Tente oferecer atenção verdadeira a uma criança sem que ninguém cuide de você. Pois é.
Cuidar precisa de suporte. De tempo. De gente que cuide da gente. Senão vira martírio. E a última coisa que a gente precisa é romantizar o martírio materno.
Revolução começa em silêncio
Cuidar, de verdade, é subversivo. É escolher ver o outro. É priorizar o que não dá lucro. É organizar o tempo com base em necessidade e não em produtividade.
E sabe o que é mais bonito? Dá pra filosofar com um bebê no colo. Dá pra pensar o mundo enquanto lava a louça. Só que ninguém ensina isso na faculdade. A gente aprende na marra, na vivência — e, se tiver sorte, em boas conversas.
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Quais atos de cuidado do seu dia são invisíveis, mas sustentam tudo? Já pensou neles como parte de uma pequena revolução?
Conta pra gente. Vamos colocar o mundo no colo e pensar juntas.
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