Feminismo é uma palavra que parece assustar muita gente, então falar de uma criação feminista se torna ao mesmo tempo difícil e necessário. Não é só combater a ideia de que rosa é de menina e azul é de menino: uma criação feminista visa tirar da criança os papéis de gênero e deixar a própria individualidade aflorar. O problema é que para isso acontecer precisamos mudar muita coisa na nossa sociedade e na nossa forma de pensar o mundo.
Comecemos por entender que existe uma diferença na forma em que homens cis e mulheres cis são tratados (aqui não fareium debate aprofundado sobre questões de gênero, mas é preciso ter consciência de que existem). Ao ignorar as diferenças entre os gêneros dentro da nossa sociedade corremos o risco de continuar criando meninas para se comportarem de forma dócil, útil, gentil, submissa, enquanto os meninos são incentivados a serem mais enfáticos, agressivos, dominadores. Para uma criação feminista, precisamos voltar à ideia de observação dos interesses reais da criança ao invés de uma imposição adulta do que ela deve gostar ou não. Em termos práticos, isso significa não só oferecer as bonecas pras meninas, mas também para os meninos; buscar brinquedos que estimulam o raciocínio lógico não só dos meninos, mas também de meninas. É olhar a criança para além do seu gênero visível: quais são suas qualidades?; aonde ela precisa de ajuda?; qual brinquedo desperta sua atenção?
É também prestar atenção nos exemplos que trazemos para as crianças, incluindo as divisões de tarefas domésticas, uso das palavras, expectativas... esse processo de desconstrução não é nada fácil e tem várias camadas, mas valem o esforço. Não podemos aceitar mais um mundo onde meninas e mulheres são vítimas constantes de vários tipos de violência, privadas de infâncias, expostas à hiperssexualização precoce. Também não podemos aceitar meninos que crescem sem entender o que é consentimento, por exemplo. Criar pessoas que entendem que o mundo precisa ser mais justo é obrigação de todos.
Leiturinha Complementar
Educação Feminista é um termo que se refere à abordagem educacional que busca questionar e desconstruir as normas de gênero tradicionais, promovendo a igualdade de gênero desde a infância. Essa forma de educação incentiva o desenvolvimento de um pensamento crítico em relação aos papéis de gênero e visa criar um ambiente em que meninos e meninas possam expressar plenamente suas identidades, livres de estereótipos restritivos.
### Princípios da Educação Feminista:
1. **Desconstrução de Estereótipos de Gênero**: A educação feminista desafia os estereótipos de gênero que são frequentemente reforçados em contextos educacionais tradicionais. Por exemplo, ensina-se às crianças que todos os brinquedos, atividades e interesses são para todos, independentemente do gênero.
2. **Empoderamento**: Incentivar o empoderamento de meninas e mulheres é central para a educação feminista. Isso inclui a promoção da autoconfiança, da capacidade de liderança e do direito de expressão.
3. **Igualdade de Oportunidades**: A educação feminista defende que meninos e meninas devem ter as mesmas oportunidades em todas as esferas, seja na escola, no esporte, nas artes ou em qualquer outra área.
4. **Inclusão e Diversidade**: Além de abordar questões de gênero, a educação feminista também busca incluir discussões sobre outras formas de opressão, como racismo, homofobia e desigualdade socioeconômica, promovendo uma visão interseccional.
5. **Criticismo e Reflexão**: A educação feminista incentiva o desenvolvimento de uma postura crítica em relação ao conteúdo consumido por crianças e jovens, como livros, filmes e programas de TV, ajudando-os a identificar e questionar mensagens sexistas.
Incorporar princípios feministas na educação das crianças pode ter um impacto profundo em seu desenvolvimento, ajudando a formar adultos mais conscientes, respeitosos e preparados para viver em uma sociedade diversificada e justa. Ao promover a igualdade desde a infância, estamos preparando o terreno para um futuro onde as pessoas possam coexistir sem as limitações impostas por papéis de gênero rígidos. Se quiser se aprofundar um pouco mais, confira as seguintes referências bibliográficas:
1. Adichie, Chimamanda Ngozi. **Para educar crianças feministas: um manifesto**. Companhia das Letras, 2017.
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